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Ações violentas da PM espalham medo, mas não inibem tráfico na Baixada


Segundo o ouvidor das polícias, Claudio Silva, a ação desencadeada pelo governo estadual não tem efeito prático no combate ao crime organizado. “Esse tipo de operação não tem qualquer tipo de efetividade no enfrentamento ao crime organizado, ao crime que atua naquele local, e isso fica demonstrado pela constatação feita por vocês. De fato, é isso. Não tem crime sendo atacado, combatido, uma vez que a dinâmica continua a mesma.”

NEGÓCIO BILIONÁRIO, VIOLÊNCIA GRATUITA

O método adotado pela PM para “combater o tráfico de drogas” nas comunidades pobres da Baixada destoa, e muito, das ações de inteligência da Polícia Civil voltadas a prender os líderes da organização, que costumam morar nos mesmos condomínios de luxo do litoral onde políticos, artistas e jogadores de futebol ostentam suas mansões.

Um exemplo é o médico Alexandre Pedroso Ribeiro, de 56 anos, que foi condenado na semana passada a 8 anos e 9 meses de prisão por tráfico de drogas e organização criminosa. Ele foi preso em 2022, após a polícia encontrar 63 kg de cocaína do PCC na casa dele no Jardim Acapulco, condomínio de alto padrão na Praia de Pernambuco, no Guarujá.

Reprodução/Redes Socias
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Irmão do agente Wagner Ribeiro, conhecido como o “empresário das estrelas” no futebol, como Neymar e Robinho, Alexandre alegou à Justiça que a cocaína apreendida, avaliada em R$ 7,5 milhões, era para consumo próprio. Segundo o MPSP, contudo, a carga era “suficiente para abastecer os pontos de tráfico de toda a região metropolitana da Baixada Santista”.

Embora o juiz tenha assinalado na sentença que Alexandre “recebia integrantes do PCC no condomínio em que morava”, hospedando-os na sua própria casa, a ação da Polícia Civil para prendê-lo não gastou uma bala sequer. O cenário é bem diferente do que ocorreu nas favelas que receberam tropas da PM durante a Operação Verão, segundo moradores. Os relatos são de agressões deliberadas promovidas pelos policiais.

Também no Morro José Menino, em Santos, um morador foi morto por engano por PMs no dia 8 de março, segundo pessoas que vivem no local.

Na Vila dos Criadores, que fica mais próxima da região portuária, uma mulher que perdeu o filho em uma ação policial diz que PMs são truculentos, atuam de forma arrogante e com ignorância. Ela mesma foi baleada na perna durante uma incursão dos policiais.

A Vila dos Criadores foi justamente um dos locais onde mais pessoas apareceram mortas na Operação Verão — oito pessoas, ao todo. O bairro pobre nos fundos da Alemoa, na região do Porto de Santos, nem sempre foi violento, segundo uma moradora.

Na região do Saboó, em Santos, a população também sofre com as condições precárias. Durante a Operação Verão, o temor atingiu até mesmo as crianças.

Na última semana, o governador Tarcísio de Freitas esteve em Santos e anunciou um investimento de R$ 27 milhões em um projeto-piloto que prevê a construção de 60 moradias sustentáveis no Dique da Vila Gilda, onde fica a maior favela sobre palafitas do país.

COMPLETO ABANDONO

Outro impacto drástico do abandono observado nas comunidades alvos da operação é que o próprio Estado se omitiu em voltar à maioria das cenas dos crimes, alegando riscos. Isso impediu a realização de um trabalho de perícia independente para ajudar a esclarecer como as ocorrências realmente se deram.

Segundo os boletins de ocorrência analisados pelo Metrópoles, pelo menos quatro a cada cinco vítimas (81%) foram retiradas do local do crime e encaminhadas a unidades de saúde, mesmo após tomarem vários tiros de fuzil. Do total, 66% tiveram o óbito constatado logo após chegarem às unidades de saúde. A remoção das vítimas dificulta o esclarecimento de como se deu o suposto confronto e, consequentemente, a responsabilização dos culpados.

William Cardoso/Metrópoles
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A polícia se recusou a investigar algumas mortes alegando que a região é perigosa

Desde a primeira grande incursão da PM na Baixada Santista, em 2023, apenas quatro policiais militares foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público paulista, sob a acusação de terem participado de execuções, todas referentes à Operação Escudo, que durou 40 dias entre julho e setembro do ano passado. Com relação à Operação Verão, o MPSP diz que as oitivas estão em curso. No âmbito administrativo, os PMs que participaram das operações no litoral seguem, em sua maioria, trabalhando normalmente nas ruas.

Em março, durante audiência pública na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), a respeito dos excessos cometidos pela PM nas operações da Baixada, a promotora Daniela Fávaro, do Centro de Apoio Operacional Criminal, sinalizou que as investigações sobre as mortes no litoral devem levar muito tempo. Ela disse que um caso de homicídio no Brasil, leva, em média, 600 dias para ser apurado, e citou o caso da ex-vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, como exemplo de como os desfechos podem ser ainda mais demorados.

“Não é simples de se fazer [as investigações]. No caso da Marielle, foram seis anos de investigações”, disse a promotora. Ainda assim, o assassinato de Marielle, ocorrido em março de 2018, ganhou repercussão internacional e recebeu holofotes dos órgãos de investigação. Já nas operações da Baixada Santista, foram quase 100 pessoas anônimas para a sociedade.



Fonte: Metrópoles


10/05/2024 – Paraiso FM

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