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Carnaval: África e poder feminino marcam 1ª noite de desfiles em SP


São Paulo — Luxo, africanidade, poder feminino e resgate das próprias origens estiveram presentes ao longo da primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo. O Sambódromo do Anhembi teve desfiles impactantes e também bastante criativos. Entre as seis primeiras escolas, os destaques ficaram por conta de Dragões da Real, Acadêmicos do Tatuapé e Mancha Verde.

As apresentações ocorreram sem sobressaltos até o fim da madrugada. Nenhuma das seis primeiras escolas estourou o limite de 65 minutos para cruzar a avenida ou teve algum problema grave com os carros alegóricos. O tempo firme, sem chuva, e também a temperatura agradável colaboraram para que os desfiles acontecessem da melhor forma.

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Até a publicação desta reportagem, restava ainda a apresentação da Rosas de Ouro, última escola a cruzar o Anhembi na abertura dos desfiles do Grupo Especial.

Camisa Verde e Branco

A escola da Barra Funda fez do desfile um cumprimento de promessa a Oxóssi pelo retorno à elite do carnaval paulistano. A apresentação foi considerada impecável, com um samba que levantou a arquibancada ao som da bateria Furiosa, tradicional no carnaval paulistana.

Camisa Verde e Branco fez de tudo para agarrar a oportunidade de permanecer na elite do samba paulistano. A agremiação tinha desfilado pela última vez no Grupo Especial em 2012. “Voltamos com coragem, com dignidade”, afirmou a presidente Érica Ferro. “Vamos dar aquele sacode de malandro, que hoje é nosso dia”, completou. Todo o desfile foi um exemplo de resgate das tradições da escola.

O ex-jogador Adriano Imperador também foi homenageado, como alguém que não virou as costas para suas raízes. Na letra do samba, “Deus perdoe quem não é Camisa” dialogou com a frase “Que Deus perdoe essas pessoas ruins”, escrita em uma camisa mostrada por Adriano em 2010, após um gol pelo Flamengo.

Barroca Zona Sul

A Barroca Zona Sul procurou celebrar seus 50 anos de história e, ao mesmo tempo, prestou homenagem a seu presidente de honra, Geraldo Sampaio Neto, o Borjão, morto no início de janeiro.

Com uma apresentação que buscou resgate histórico, a Barroca usou e abusou da nostalgia, relembrando seus desfiles do passado, ainda do tempo em que a Avenida Tiradentes parava para abrir alas para o carnaval paulistano, antes da inauguração do Anhembi.

O próprio abre-alas, sem grandes recursos tecnológicos, mostrou isso. Na letra do samba, “a velha-guarda é minha religião” também deu o tom do desfile, que ainda homenageou Sebastião Eduardo do Amaral, o Pé Rachado, fundador da escola. Foi uma profusão de cores no sambódromo, com destaque para o verde e o rosa, de sua madrinha Mangueira.

Dragões da Real

A Dragões da Real sempre foi conhecida pelo luxo nas fantasias e nos carros alegóricos. Para mostrar a realeza africana, com forte influência feminina, isso não poderia ficar de fora. Foi uma exibição exemplar, com esculturas em movimento e um colorido que ainda não tinha sido notado no Anhembi na passagem das duas primeiras escolas.

Os componentes estavam cobertos com fantasias repletas de plumas de avestruz. Os carros alegóricos de acabamento refinado trouxeram mulheres como Cleópatra, a faraó cantada na letra do samba. No chão, as alas representaram os reis, como o Napoleão Negro do Sudão.

O resultado agradou os integrantes da comunidade. “Não é só sobre falar do negro nos navios negreiros. É [sobre] o tempo em que não havia correntes”, afirmou a musa Simone Sampaio, ao final da apresentação. A Dragões bateu na trave com dois vice-campeonatos e agora busca o título.

Independente

A Independente foi mais uma escola a abordar a África. Em especial, as mulheres guerreiras Agojie, que lutaram contra franceses no século 19 no reino de Daomé, onde fica atualmente o Benin.

A comissão de frente exaltou o sagrado feminino. Um ritual vodum fez surgir uma figura materna, também feiticeira, que representou a ancestralidade das guerreiras. Embora sem o mesmo luxo da antecessora Dragões, a coreografia foi poderosa. Como disse posteriormente uma das componentes da escola, “chegou o dia de sermos cantadas no sambódromo”.

O samba teve refrão potente, com versos como “é ginga que vem de lá, é força que vem de cá, africanidade”. A escola trouxe cores escuras nas primeiras alegorias e, por fim, no carro derradeiro, tons azulados como numa conexão com o futuro, mostrando a persistência do poder feminino.

Acadêmicos do Tatuapé

A Acadêmicos do Tatuapé foi a primeira escola a fugir um pouco dos principais temas da noite, com enredo baseado na cidade baiana de Mata de São João. A criatividade e a alegria deram o tom, com um coral gostoso de ouvir, contrapondo vozes masculinas e femininas: “ê, ê, baiana… baiana boa”.

A comissão de frente contou com integrantes como se fossem esculpidos em barro. Durante todo o desfile, houve também citações variadas aos povos originários. A paleta de cores variou com o decorrer da apresentação, e o azul e branco foi ganhando destaque, inclusive nas fantasias dos ritmistas, como filhos de Gandhi.

Um dos pontos altos foi a transformação do Anhembi em uma festa de São João, com bandeirinhas descendo de um carro alegórico, cobrindo boa parte da avenida. O canto de onde surgiu o coral bom de ouvir fez menção ao samba de roda e trouxe para a zona norte baianidade, com letra que citou até Gilberto Gil, em “que Deus deu, que Deus dá”, da música “Toda Menina Baiana”.

Mancha Verde

A Mancha Verde fez um desfile com cores vibrantes e fantasias bem construídas para contar a força da agricultura brasileira. A escola entrou no Anhembi no fim da madrugada e, ao longo da apresentação, o céu começou a clarear.

Logo na primeira ala, os componentes já mostravam em fantasias variadas a diversidade de alimentos produzidos no solo do Brasil. No samba, o destaque ficou por conta das cordas ao fundo e uma sonoridade que evocou música sertaneja, de raiz. Também teve evocações a São José, no componente religioso da apresentação. Bem elaborado e de fácil compreensão, o desfile da Mancha teve caráter educativo ao abordar também os diversos ciclos da agropecuária ao longo da história. Destaque também para crianças fantasiadas de porquinhos (animal símbolo do Palmeiras, time da torcida alviverde).

A escola sofreu uma baixa na última quarta. O primeiro mestre-sala Marcelo Luiz está com dengue, não desfilou, mas foi ao Anhembi. “Estou me recuperando, mas estou onde tinha que estar. Falei ‘vou, porque preciso dar meu apoio à Adriana e ao Tiago”, disse, citando o substituto.



Fonte: Metrópoles


10/02/2024 – Paraiso FM

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